Dizem até que ele tem um pacto com o demônio. O fato é que Allen Klein, empresário dos Rolling Stones, é visto como um dos maiores picaretas da indústria musical. Após a morte de Brian Epstein, em 1967, Klein foi procurado por 3/4 dos Beatles (John, George e Ringo) para que ele passasse a empresariar a banda. Isso foi o começo do fim de tudo, já que Paul não concordava com a contratação de Klein e defendia que o escolhido fosse John Eastman, irmão de sua mulher, Linda. Várias brigas vieram depois disso e culminaram na separação dos quatro. Anos mais tarde, George e Ringo acabaram processando Klein, por achar que os contratos intermediados pelo empresário durante o início da carreira solo dos dois não lhes eram muito favoráveis.
, que continha a música 'Bittersweet symphony'. Fez o maior sucesso na época.
O pedaço inicial dessa música, por sua vez, é um sample de uma versão orquestrada de 'The last time', dos Stones. Klein, percebendo a oportunidade de ganhar um bom dinheiro, processou o Verve e os obrigou a colocar Mick Jagger e Keith Richards como co-autores de 'Bittersweet symphony' (se você tem o disco, veja só os créditos). A grana em direitos autorais, que caiu de repente no colo dos dois, foi, obviamente, dividida com o picareta.
BLUES ETÍLICOS - 'CANCERIANO SEM LAR'
Morei durante quase toda a minha vida em São Paulo. Estudei na mesma escola da primeira série até o colegial. A escola ficava a dez minutos da casa dos meus pais, e, por 11 anos, eu caminhei pelas mesmas ruas, todos os dias, para chegar ao mesmo lugar e encontrar as mesmas pessoas. Na quarta-série eu ganhei um carrinho verde para carregar minha mochila. Na quinta, fui assaltado pela primeira vez. Na oitava, a prefeitura desapropriou um pedaço da escola para que pudessem construir a parte da nova Faria Lima que passa por Pinheiros. No segundo colegial, conheci minha primeira namorada. Os cachorros da casa do Edmundo, a lojinha que alugava jogos de videogame e hoje vende roupas, a rua sem saída aonde eu ia com alguns amigos para matar a aula de geografia do Márcio.
Nunca imaginei que fosse morar em outra cidade. Não só por causa dos amigos, nem da família, mas porque eu realmente gosto de São Paulo. A familiaridade das ruas, das casas, do trânsito, tudo isso me transmite segurança, uma segurança que eu não consigo em nenhum outro lugar.
Ainda assim, eu não achava que era feliz. Então, quando eu tinha 21 anos, me ofereceram um emprego em Brasília. Era uma oportunidade muito boa, mas eu, que sempre fui avesso a mudanças, fiquei na dúvida. Quando parei para pensar, porém, percebi que não havia nada que me prendesse em São Paulo. Solteiro, sem filhos, com uma família que estava se desmanchando e amigos que eu poderia muito bem fazer em Brasília também. Apesar de dizer a todos que eu só estava me mudando por causa do trabalho, no fundo eu tinha a esperança de que tudo o que estava errado na minha vida pudesse ser resolvido na nova cidade.
Já faz alguns anos que eu vivo em Brasília, e, sempre que me perguntam se eu já me acostumei com a cidade, eu não sei o que responder. Brasília é uma cidade singular. Planejada para funcionar direitinho, sem solavancos. Ruas longas e retas, sem trânsito, sem poluição, sem assaltos, sem sobressaltos.
Quando tudo na minha vida dava errado em São Paulo, eu me consolava olhando pela janela e vendo que o caos se abatia não apenas sobre mim, mas também sobre toda a cidade. Em Brasília, eu olho em volta e vejo as ruas que mais se parecem com estradas, onde pessoas estão sempre passando nos seus carros, com objetivos claramente traçados, enquanto eu estou parado, assistindo. É como se estivessem, constantemente, esfregando a perfeição na minha cara cheia de defeitos.
A minha mudança para Brasília não foi nada do que eu imaginava. Todos os problemas que eu tinha em São Paulo continuam me acompanhando. Continuo cometendo os mesmos erros que cometia antes. No final das contas, eu devo ter aprendido que não adianta mudar de cidade se eu continuo o mesmo. A questão é que, como já foi dito aqui, eu detesto mudanças. E às vezes me sinto como se já tivesse nascido com a idade que eu tenho hoje. Acho que eu nunca vou mudar, e isso me faz me sentir velho. Afinal, o quanto mais eu posso envelhecer se eu provavelmente vou agir hoje da mesma maneira que agirei quando tiver 50, 70, 100 anos? Quando eu era mais novo e tinha algum problema, buscava conforto na idéia de que o futuro seria melhor do que o presente. Hoje, parece que não há diferença entre as duas coisas, e tudo permanecerá sempre assim.
22/08/2003
JÚPITER MAÇÃ - 'MISS LEXOTAN 6mg GAROTA'
Acho que chegou a hora de reorganizar minha coleção de discos. Vou tentar a ordem cronológica de aquisição, começando com os mais antigos, que vão ficar no lado superior esquerdo da estante.
O primeiro disco foi o
In Utero, do Nirvana. O segundo foi
Sgt. Pepper's, dos Beatles. Os dois vieram do Eldorado Plaza, loja do Shopping Eldorado que já nem existe mais.
O penúltimo foi
Vincebus Eruptum, do Blue Cheer, e o último,
Marquee Moon, do Television. Ambos do eBay.
Difícil vai ser me lembrar da ordem do resto. Ainda bem que eu tenho a noite inteira.
21/08/2003
FAGNER - 'BORBULHAS DE AMOR'
Acordei hoje me sentindo muito trouxa.
20/08/2003
BOOKER T. & THE MG'S - 'GREEN ONIONS'
Laerte de novo
18/08/2003
KID ABELHA - 'TODO MEU OURO'
Nos últimos dias (e noites, e algumas madrugadas) eu tenho pensado muito nas coisas que nos fazem gostar ou não de alguém. Veja só o caso das (poucas, é verdade) mulheres por quem eu já fui apaixonado um dia.
Todas elas tinham características comuns. Eram bonitas, inteligentes e sabiam dançar melhor do que eu. Existem muitas mulheres no mundo com essas características, claro. Mas nem todas me atraem do mesmo jeito. A diferença está, como sempre, nos detalhes.
Tomemos a Paula, por exemplo. Adorava cinema e era fã do Kubrick. Nos idos do século XX, eu era louco por ela. Lembro até hoje do nosso primeiro encontro, numa mostra de curtas-metragens húngaros, lá no antigo Cine Vitrine (que hoje tem um nome capitalista qualquer). Claro que, depois desse dia, ainda levamos uns quatro meses para ficarmos juntos.
É, eu sou tímido. Mas isso é assunto para depois.
Embora muitos anos já tenham se passado desde então, o que ficou marcado na minha memória foi o seu cheiro. E ela nem usava perfume: era só o cheiro que, naturalmente, vinha da sua bela pessoa.
Acho que, dos cinco sentidos, o olfato é o que melhor funciona comigo. Talvez eu seja cego e ainda não saiba. Sou um péssimo fisionomista, mas nunca esqueço um cheiro.
Pois hoje eu fui levar algumas roupas numa lavanderia nova que abriu aqui perto do trabalho. Quando fui pegá-las de volta, levei um susto: as roupas tinham o mesmo cheiro da Paula. Exatamente o mesmo cheiro.
Acho que eu já fui apaixonado por uma garrafa de amaciante e não sabia.
15/08/2003
VASELINES - 'YOU THINK YOU'RE A MAN'
- Se eu tivesse peitos como os dela, seria a maior assaltante de postos de gasolina do país.
- Como assim?
- Ora, com um decote daquele, eu não seria presa nunca. Nenhum frentista ia ser capaz de descrever o meu
rosto para a polícia.
13/08/2003
MARILYN MONROE - 'HAPPY BIRTHDAY TO YOU'
'A classe trabalhadora é a classe produtiva; a classe trabalhadora é responsável por toda a riqueza material que existe num país. E enquanto o poder não estiver nas mãos dela, enquanto a classe trabalhadora permitir que o poder continue nas mãos dos senhores que a exploram, nas mãos dos especuladores, nas mãos dos monopólios, nas mãos dos interesses corporativos nacionais e estrangeiros, enquanto as armas estiverem nas mãos daqueles que servem a esses interesses, a classe trabalhadora estará condenada a viver uma existência miserável, não importa quantas migalhas os poderosos deixem cair de suas mesas fartas'
Hoje é aniversário do Fidel Castro. Quando ele esteve na posse do Lula, eu tive a oportunidade de encontrá-lo. Até apertei sua mão.
De perto, o comandante nem parece ser o ditador sanguinário que ele é.
FRANK ZAPPA - 'YOU ARE WHAT YOU IS'
Ok. A essa altura do campeonato, todo mundo já sabe que um estudante de direito jogou uma galinha preta na Marta Suplicy. Todo mundo deve ter ouvido também o comentário do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Para quem não ouviu, foi o seguinte: "Acho que jogar uma galinha é uma ofensa. Seria como se algum homem estivesse falando e se jogasse um veado lá dentro".
Isso posto, olha só o
editorial do Estadão de hoje:
"[...] o ministro fez uma observação -- a totalmente improvável hipótese de arranjar-se um espécime mamífero da ordem dos artiodáctilos e família dos cervídeos para arremessá-lo contra um orador -- que, no fundo, pode ser interpretada como preconceituosa [...]"
"Um espécime mamífero da ordem dos artiodáctilos e família dos cervídeos."
O sujeito que escreveu esse editorial deve ter gastado horas no
Google para encontrar tal definição.
Se bem que eu duvido que o editorialista desse vetusto periódico se utilize de ferramentas tão prosaicas. Deve ter consultado a Enciclopédia Britannica.
11/08/2003
LEMONHEADS - 'IF I COULD TALK I'LL TELL YOU'
Além de ser alvo de piadas no Brasil por causa de seu sobrenome de duplo sentido, o ex-vocalista do Lemonheads, Evan Dando, também é bastante conhecido pela quantidade colossal de drogas que costumava usar.
Em 1993, poucas semanas antes do lançamento do disco 'Come on feel the Lemonheads', que acabou sendo o maior sucesso comercial de sua carreira, Evan Dando estava tomando tantas drogas que, certo dia, perdeu completamente a voz, sendo obrigado até a cancelar uma entrevista coletiva de divulgação do disco que estava marcada para aquela época.
Com base nesse incidente, ele escreveu a música 'If I could talk I'll tell you', em parceria com Eugene Kelly, vocalista/guitarrista dos Vaselines, uma das minhas bandas favoritas.
E tudo isso foi uma desculpa para colocar aqui a letra dessa música, que não sai da minha cabeça desde sábado à noite.
É isso. Eu ouço Lemonheads. Eu gosto de Pretenders. Eu vejo seriados da Sony.
Lemonheads - 'If I could talk I'll tell you'
Half past nine, quarter to ten
10:15, and we're coming around again
Hold off, are we going soft?
Flushed my Zoloft, and we're comin' around again
Found out, and i almost drowned
Walked back down, and we're comin' around again
If I could talk I'd tell you
If I could smile I'd let you know
You are far and away
My most imaginary friend
Khmer Rouge, genocide qua
Your place or mein kempf, now i'm givin' the dog a bone
Slight hunch, without the vaguest clue
to keep the blood balanced, now we're coming around again
Half past nine, quarter to two,
10:15, and we're comin' around again
If I could talk I'd tell you
If I could smile I'd let you know
You are far and away
My most imaginary friend
If I could talk I'd tell you
If I could smile I'd let you know
You are far and away
07/08/2003
OINGO BOINGO - 'DEAD MAN'S PARTY'
Quando saiu de casa para mais um dia de trabalho, Cléber Machado nem imaginava o que ia ter pela frente.
Tudo transcorria normalmente, o Vasco jogando contra o Goiás pelo Campeonato Brasileiro, um jogo como qualquer outro. Sequer haveria transmissão em rede nacional, a partida seria exibida apenas para algumas poucas cidades.
Essa calmaria, porém, estava com os minutos contados. No meio da partida, morreu Roberto Marinho. Sim, ele mesmo, o fundador da TV Globo.
Acho que todo jornalista conhece a pressão que cai sobre seus ombros quando os donos do jornal/ da revista/ da emissora 'pedem' algum serviço. Nesse caso, a pressão não poderia ser maior: o sujeito, que achou que estava lá só para narrar um jogo de futebol, precisava agora anunciar, ao vivo, a morte do dono da maior rede de TV do país.
Cléber Machado começou a ler a nota preparada, muito provavelmente, pela própria família do falecido. E eu comecei a pensar: 'E se ele tem um soluço?'; 'E se ele se lembra de uma piada e tem um ataque de riso justo agora?'; 'E se ele perde a voz?'
Qualquer coisa seria motivo para ele não apenas ser demitido, mas também seria razão para que ele nunca mais encontrasse emprego nem de faxineiro na rádio Itatiaia.
'E se o Goiás fizer um gol bem agora?'
Pois foi isso mesmo que aconteceu. O Goiás fez um gol bem na hora em que o Cléber Machado discorria sobre a vida e a obra do Roberto Marinho.
Deu para perceber que, por uma fração de segundo, ele chegou a considerar a hipótese de interromper a leitura para anunciar o gol.
Claro que ele continuou como se nada estivesse acontecendo.
Mas não se podia negar que a cena tinha lá seu significado: o narrador falando, na maior seriedade possível, sobre a morte do 'jornalista Roberto Marinho', enquanto, na própria emissora fundada pelo falecido, tudo que se via eram pessoas felizes, pulando, gritando. O estádio veio abaixo. Os jogadores se abraçavam. A torcida vibrava.
E cada um que entenda o simbolismo disso como quiser.
05/08/2003
MUTANTES - 'PANIS ET CIRCENSIS'
Quando Thomas Mann encontra Angeli
A intenção inicial de Hans Castorp era apenas visitar seu primo enfermo que passava uma temporada numa clínica de repouso instalada na cidade de Davos, numa época em que eventos que celebram a globalização ainda não dominavam as paisagens suíças.
Nessa clínica, a saúde dos pacientes era medida de acordo com a temperatura de cada um. Por isso, o termômetro era um instrumento bastante importante. Todos possuíam o seu próprio acessório, que ficava acomodado em elegantes estojos de veludo.
Perdido naquela imensidão das montanhas, Hans Castorp começa a refletir sobre como a passagem do tempo naquele lugar se dá em velocidade diferente do que acontece na planície.
Para ele, a medição do tempo poderia se comparar a um termômetro sem escala: apenas uma barra de vidro cheia de mercúrio, e nada mais. Ou seja, a mesma variação de tempo/mercúrio seria percebida pela pessoa de modos diferentes, dependendo da escala utilizada.
O raciocínio acaba culminando numa conclusão contrária àquela divulgada pela sabedoria popular, segundo a qual o tempo passa muito mais rápido quando estamos ocupados com alguma coisa, e demora mais quando não estamos fazendo nada.
Castorp diz que ocorre justamente o contrário: quando não estamos fazendo nada, a vida passa num piscar de olhos. Nos perdemos na rotina, nos lugares-comuns e, quando paramos para pensar, dez, vinte, cinquenta anos se passam num piscar de olhos. Por outro lado, quando aproveitamos as oportunidades que nos aparecem e vivemos uma vida cheia de experiências diversas, um ano pode durar uma eternidade.
Resumindo: quer saber se você está ou não aproveitando bem a vida? Basta ver se o tempo está ou não passando depressa demais para você.
Ou, como dizem os Skrotinhos:
04/08/2003
RAUL SEIXAS - 'EU NASCI HÁ 10 MIL ANOS ATRÁS'
Eu nasci:
- No mesmo dia que a Fernanda Lima, o George Michael e o George Orwell.
- No mesmo ano em que o Figueiredo sancionou a Lei da Anistia, que o Doca Street foi condenado e que o aiatolá Khomeini chegou ao poder no Irã.
Chefe, eu só faço
esse tipo de coisa depois do expediente.
Dica da Sarcástica
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